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HISTÓRIA, MUSEUS E ENSINO: INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO MUSEAL

José Petrúcio de Farias Junior
Ana Paula Cantelli Castro

ISBN: 978-65-5889-138-3
DOI: 10.46898/rfb.9786558891383

Presentación

História, Museus e Ensino, um compromisso com o futuro
Pedro Paulo A. Funari
Departamento de História, Unicamp
O futuro no título deste prefácio pode estranhar, tendo em vista que História, Museus e Ensino partem do passado. A História deriva de uma raiz que significa “ver” (*weyd-), daí investigar, saber, conhecer. O termo história foi utilizado para a observação do mundo, algo que aparece ainda na expressão História Natural (“observação da natureza”). Heródoto (484-425 a.C.), considerado pelo orador latino Cícero (106-43 a.C.) como o pai da História (De legibus, 1, 5), difundiu o uso de História para designar narrativas sobre o passado:
Quintus: Intellego te, frater, alias in historia leges obseruandas putare, alias in poemate. – Marcus: Quippe cum in illa ad ueritatem, Quinte, quaeque referantur, in hoc ad delectationem pleraque; quamquam et apud Herodotum patrem historiae et apud Theopompum sunt innumerabiles fabulae.
Quinto: Eu te entendo, irmão, ao considerar que umas são as regras a serem observadas na História, outras nos poemas.
Marco: De fato, pois naquela (a História) tudo se relaciona à verdade, nesta (a Poesia) quase tudo ao deleite, ainda que tanto em Heródoto, o pai da História, como em Teopompo apareçam inúmeras fábulas.
Na obra do historiador grego, a observação visual tem destaque recorrente (Miltsios 2016), o que significa que a narrativa decorrente da vista no presente (Historía) procura entender o passado, a partir do momento em que vive o observador (ῐ̔στορῐκός, historicós, storico, em italiano, historiador; Momigliano 1958). Presente e passado, nessa ordem, explicitam-se como inseparáveis: ogni vera storia è storia contemporânea, toda história verdadeira é história contemporânea (Croce 2011: 14).
Museu remonta às Musas, entidades mitológicas ligadas à mente: literatura, ciências e artes. Um lugar sagrado, o museu viria a servir na modernidade como denominação para a guarda desses testemunhos do engenho humano, e depois também da natureza (Funari 2012). A relação entre presente e passado está sempre presente, acrescida de certa sacralidade, pelo efeito de aura (ar, espírito) do objeto único (Benjamin 1969).
Ensino origina-se no estandarte visível a ser seguido em manobras militares. Isso introduz e explicita um elemento original: o direcionamento da ação. Enquanto educação possui o sentido de levar para fora o que já se encontra dentro, ou seja, a capacidade de pensar e agir, o ensino marca a ênfase no comando. Essa diferença está presente em outros idiomas, como no alemão Unterrichtung (ensinar, “levar para baixo”), por oposição a Erziehung (educação, “levar para fora”) ou Bildung (Educação, “crescimento”), termo de uso corrente universal e que leva ao “cuidado de si” (Alves 2019). Tanto a História como os museus podem estar condicionados por direcionamentos, assim como o ensino. Para evitar tais abusos, para além do uso consagrado de educação, juntam-se neologismos, como ensinagem (Anastasiou e Alves 2005). O que importa é o potencial de capacitação de indivíduos e de grupos para agir no mundo, para que o passado, no presente, possa servir para um devir de convivência.
Este volume representa uma oportunidade para explorar esse imenso potencial. Nos diversos capítulos, aparecem temas centrais, como educação patrimonial, educação museal, estratégia de ensino, sala de aula, dispositivos de memória, extensão à comunidade, entre outros tantos, agenciados para relacionar presente, passado e futuro. A universidade desempenha papel de particular relevância nesse âmbito. A universidade é tardia, no Brasil, do século XX, mas tem-se destacado na sua interação com museus e escolas, no sentido de contribuir para novas práticas criativas, voltadas para o cuidado de si, tanto no sentido restrito, como amplo: de si mesma e de todas as coisas. Este volume contribui para a emancipação e para o convívio. Ao final da leitura, saímos com a alma inspirada, com a expectativa por um devir outro.

Fecha de publicación:

13 de setembro de 2021 22:11:25

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